Com base no texto abaixo e nas seguintes imagens e
charge realize um texto de cunho argumentativo que discuta questões sobre
padrões de beleza, indústria cultural e seus desdobramentos.
POR QUE ACHAMOS QUE SER MAGRO É BONITO?
Ser magra é a prioridade nº1 de
muitas das mulheres. Essa obsessão não surgiu do dia para a noite: ela é fruto
de um ambiente mais cruel do que você imagina. A SUPER explica de vez essa
história
POR Ana Luísa Fernandes, Priscila
Bellini ATUALIZADO EM 08/07/2015
Novo produto genial ajuda a perder 12 quilos em 4
semanas. Sopa detox, suco detox, água detox. Dieta da sopa, da lua, do pepino,
da batata doce, pra secar a barriga. Em um passeio rápido pelas notícias e
listas engraçadas em sites de entretenimento, não é nada difícil pinçar alguns
exemplos de uma obsessão pela magreza. As palavras-chave, ali em cima, não
enganam - a gente acha exemplos demais, até. Mas por que queremos tanto
emagrecer? Por que achamos que magreza = beleza?
A preocupação com o ponteiro da balança está longe de
ser apenas uma preocupação com a saúde. Essa neura com o peso não vem dos
tempos mais remotos. Basta espiar as obras de arte dos séculos passados e ver
que a figura feminina idealizada ali concentrava mais gordura do que as top
models de hoje. O quadril largo, as coxas generosas, o rosto mais cheinho eram
traços pra lá de valorizados nas musas - o que você pode conferir na obra
abaixo, As Três Graças, de Peter Paul Rubens, feita em 1635. Ainda que o padrão
em si tenha mudado pra valer, a lógica por trás dele permanece. "Os
padrões que aparecem ao longo da História são, como regra, acessíveis a
poucos", aponta a psicóloga Joana de Vilhena Novaes, Coordenadora do
Núcleo de Doenças da Beleza e representante da Fundação Dove para a Autoestima
no Brasil. Quando fazer as três refeições básicas diariamente era um luxo e
morrer de fome era um destino comum para as pessoas, a gordura alcançava status
de privilégio. Agora, já que temos mais comida à disposição, mais jeitos de
conservá-la e nossos armários ficam carregados de biscoitos, salgadinhos e
similares, comer é fácil. Portanto, não é de estranhar que as modelos
extremamente magras sejam colocadas em um pedestal. É mais difícil ser muito
magra com tantas calorias à disposição. O corpo magro e jovem também exige cada
vez mais procedimentos estéticos e cirurgias para atingir a dita
"perfeição" - ou, pra ser mais direto, exige grana, que vira mais um
obstáculo. Imagina só o dinheiro necessário para bancar o 1,5 milhão de
cirurgias plásticas realizadas anualmente só no Brasil, de acordo com a
Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética.
Mas não é essa a única explicação que surgiu para a
mudança nos padrões. Uma delas veio do livro O Mito da Beleza, da jornalista
americana Naomi Wolf, publicado na década de 90. A sacada dessa publicação foi
relacionar o novo modelo com a emancipação das mulheres, quando tantas delas
assumiram postos de trabalho e quando seus direitos passaram a ser assegurados.
Em poucas palavras, Naomi defende que há mecanismos que dominam a mulher na
sociedade - e, depois de se libertar de um deles, surgiu outro, o tal mito da
beleza. E daí viriam os sacrifícios todos, as dietas malucas, as técnicas
cirúrgicas incrementadas a cada mês - justamente porque a sociedade passou a
pregar que os malabarismos eram necessários para que as mulheres fossem
aceitas. E os dados trazidos pela autora assustam, já que demonstram como,
pouco a pouco, o problema avançou e tomou forma. As modelos passaram a ser 23%
mais magras do que uma mulher padrão (e não mais 8%, como costumava ser, com as
moças mais cheinhas). De 1966 e 1969, a porcentagem de alunas que se
consideravam gordas saltou de 50 para 80%. Com a onda de dieta ganhando força,
Naomi Wolf comparou as calorias que "deveriam" ser ingeridas para
alcançar o corpo perfeito - 800, 1000 calorias diariamente. Para ter uma ideia,
no gueto de Lodz, em 1941, em pleno nazismo, os judeus se alimentavam de rações
que tinham de 500 a 1200 calorias por dia. Não é à toa que chegamos a extremos
de magreza por aí.
Hoje, só no Brasil, um terço das meninas que estão no
9º ano do Ensino Fundamental já se preocupam com o peso, de acordo com uma
pesquisa de 2013 do IBGE. A nível global, a probabilidade de que uma moça com
idade entre 15 e 24 anos morra em decorrência de anorexia é 12 vezes maior que
por qualquer outra causa. O Journal of the American Academy of Child and
Adolescent Psychiatry constatou que cerca de 60% das alunas no ensino médio já
fazem dieta. A preocupação com a balança chega a atingir meninas com 5 anos de
idade.
Modelo que desfilou no
Guy Laroche Fashion Show, na Paris Fashion Week de 2007
E não é à toa que as vítimas mais comuns sejam as
mulheres. A nutricionista Paola Altheia, responsável pelo blog Não Sou
Exposição, vai além para explicar a tendência. "Enquanto a moeda de valor
masculina na sociedade é dinheiro, poder e influência, a das mulheres é a
aparência", crava. Para a ala feminina, essa pressão toda desemboca em não
apenas um modelo estético, mas um modelo de vida. Para ser linda e desejada,
para ter um marido perfeito, o emprego dos sonhos, você só tem que ser...
magra. Simples né? Mas nem tanto: um dos casos clássicos foi o da dieta da
princesa, que fez muito sucesso há algum tempo atrás - no caso, era a princesa
Kate Middleton, esposa do Príncipe William, do Reino Unido. Ela, como toda
princesa deve ser, é bem magra. O corpo vem de um sacríficio que Kate teve de
fazer: o regime incluía muitas proteínas e quase nada de carboidrato. Já dá
para perceber que não é lá muito saudável. O que repercutia no imaginário
feminino era muito mais a idealização da princesa: a dieta era só mais um modo
de alcançá-la. E essa estrutura se repete por aí. Um estudo realizado por
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (a Unifesp), em 2002,
analisou o valor nutricional de 112 dietas que apareciam nas revistas
brasileiras à época. Resultado: só uma delas atendia a requisitos mínimos para
garantir a nutrição da pessoa, e a maioria esmagadora era cilada, prejudicando
a saúde da pessoa que buscava a boa forma.
Com a ascensão da internet, a coisa piorou. Tumblr,
Facebook, Instagram, Twitter e as outras tantas redes sociais colaboram para a
obsessão por corpos cada vez mais magros. Esses sites espalham com uma
velocidade assustadora ideias sobre a imagem corporal que atingem pessoas do
mundo todo, de todas as idades, até mesmo aquela priminha de 12 anos que dá os
primeiros passos na web. Exemplos disso são os desafios, que rodam por aí, a
fim de "comprovar" que determinada pessoa é magra. Se você consegue
cumpri-los, parabéns, você é uma vencedora. Se não, feche a boca. O mais
recente é o "collarbone challenge", que começou na China. Mulheres
têm que enfileirar o maior número possível de moedas na clavícula, as famosas
"saboneteiras". Quanto mais moedas, mais enxuta a moça é. Já o
"bellybutton challenge" quer que as mulheres encostem no umbigo passando
o braço por trás do corpo. Mas atingir tal proeza não é só uma questão de ser
ou não magra: fatores como flexibilidade e estrutura óssea também entram em
jogo. Encostar no umbigo não é indicativo de nada: muito menos de que alguém
está magro ou gordo. A gravidez, que antes era um território seguro,
aparentemente entrou no jogo. A nova moda é a "mãe fitness", com
barriga pequena e sarada (mesmo com o volume extra, já que abriga um bebê). Se
uma mulher "comum" já se sentia fracassada por não conseguir voltar
ao seu peso original - ao contrário das famosas, como vemos por aí -, imagine
agora que a obrigação de ser sarada também afeta o período gestacional. São
mais e mais imagens (muitas vezes retocadas) que ditam um modelo só. "A
imagem da modelo alta, magra, longilínea, caucasiana, sem rugas, celulites,
manchas ou mesmo poros é incessantemente repetida, como uma norma. Esta é a
origem do sentimento de inadequação", reforça Altheia.
A constatação também aparece no livro de Naomi Wolf,
que citamos lá em cima. "Uma fixação cultural na magreza feminina não é
uma obsessão pela beleza feminina, mas uma obsessão pela obediência
feminina". Qualquer mulher que desobedeça um padrão, voluntariamente ou
involuntariamente, é taxada de feia, estranha ou desleixada. Afinal, o corpo da
mulher está aí para ser observado.
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