sexta-feira, 12 de novembro de 2010

OS GREGOS INVENTARAM A POLÍTICA

Vivemos em uma democracia, assim, exerceremos nosso direito de votar. Questão muito polêmica entre sociólogos e estudiosos da época, já que após a Revolução de 1930, o voto passou a ser obrigatório em nosso país.
Se analisarmos a história de voto no Brasil, veremos que antes da Proclamação da República apenas homens ricos, proprietários de terras ou que tinham altos rendimentos poderiam votar. Depois, todos os homens que tivessem mais de 21 anos e fossem alfabetizados poderiam exercer sua cidadania. A partir de 1932 passaram a poder votar todos os homens e mulheres maiores de 18 anos que fossem alfabetizados. Em 1935 os analfabetos também conseguiram o direito de voto e, pela Constituição de 1988, esse direito foi estendido aos jovens com mais de 16 anos.
Vemos que foi um longo percurso até que todos brasileiros independente de sexo, cultura e classe social pudéssemos votar e, se não fossem os Gregos seria ainda mais difícil que conseguíssemos ter uma estrutura desenvolvida na política já que como M.I Finley, que fez seu Doutorado na universidade de Columbia, Nova Iorque e foi Professor, marcado pelo neomarxismo da Escola de Frankfurt e organizador do texto O legado da Grécia- Uma nova avaliação afirmou que “[...]efetivamente os gregos “inventaram” a política [...] ” (p. 32)
Com essa afirmação vemos que Finley considera que houve uma invenção da política, já que para o escritor a pólis não é uma simples emanação da natureza, mas o efeito da ação do homem, um produto da natureza racional do homem, como mostra a importância da pólis em seu texto:
“Na pólis grega, contudo, embora se tratasse de um importante direito, representava apenas um dentre vários direitos igualmente exclusivos- o direito à propriedade, o direito a contrair casamento legal com outro cidadão, o direito de participar de atividades ligadas a cultos importantes- e só nas democracias estava à disposição de todos os cidadãos, enquanto os demais direitos eram universais, normalmente até mesmo sob tiranias.” (p.35)
Observamos então a importância da pólis para que a política fosse “criada”, já que em grego, significa cidade organizada por leis e instituições e para Maria Beatriz B. Florenzano, autora de O Mundo Antigo: Economia e Sociedade: “ [...] a mais importante realização do arcaico foi, sem dúvida alguma, a criação da pólis. A partir deste momento, a pólis será o quadro histórico em que a civilização grega desenvolver-se-á.” (p. 24) diferentemente do que acontecia no Egito e na Mesopotâmia em que o poder estava nas mãos dos reis e sacerdotes, na Grécia, especialmente em Atenas, os cidadãos comuns tinham um papel significativo na administração e no governo da cidade.
Além dessa característica vemos que os gregos reconheciam e valorizavam a capacidade de realização do homem. Como podemos observar em Antígona, de Sófocles um dramaturgo grego que viveu entre 495-406 a.C e mostra a responsabilidade das atitudes do homem para si mesmo como vemos no excerto abaixo:

“Soube aprender sozinho a usar a fala
E o pensamento mais veloz que o vento
E as leis que disciplinam as cidades
E a proteger-se das nevascas gélidas
Duras de suportar a céu aberto”.

Sófocles também fez a peça Édipo Rei, que é uma crítica aos governantes que ascendem ao poder de forma irregular e por isso ameaçam a ordem legal da pólis, diferentemente dos outros povos que atribuíam às divindades a responsabilidade por seus destinos. Como Ciro Flamorion Cardoso nos mostra em seu texto Deuses, Múmias e Ziggurats o exemplo dos mesopotâmios que tinham uma concepção determinista que segundo o autor é forte até hoje em dia na Ásia Ocidental “ [...] a qual o destino de cada um está previamente fixado: sua sorte, no sentido geral do termo como no mais usual, independe de agir bem ou mal”. (p. 42)
Assim, podemos observar o grande salto que os Gregos deram para o desenvolvimento da sociedade, tanto que a nossa sociedade atual baseia-se na sociedade ateniense que destacava-se por ser uma das mais importantes. Seu povo orgulhava-se e zelava por sua autonomia. A ela que se deve a criação de um sistema de governo até hoje estudado e admirado como um modelo de organização social e política: a democracia como salienta o professor Vitor Bisoli in O Mundo Grego.
Contudo, como Maria Beatriz B. Florenzano in O Mundo Antigo: Economia e Sociedade(Grécia e Roma) nos mostra: “ [...] a democracia e a manutenção de uma pólis tal como Atenas dependia de injeções financeiras externas.” (p. 53) e a Guerra do Peloponeso que foi um conflito entre Atenas e Esparta, ocorrido entre 431 e 404 a.C. “Atenas viu-se obrigada a dissolver seu império e perdeu assim grande parte dos recursos indispensáveis à sua sobrevivência”. (p. 53)
Mesmo que a Guerra do Peloponeso tenha sido a verdadeira causa do declínio das instituições democráticas e quando a chamada “democracia” na Grécia não era sendo para todos, mesmo assim nenhum povo do mundo antigo contribuiu tanto para a riqueza e a compreensão da Política, no seu sentido mais amplo, como o fizeram os gregos de outrora. Os nomes de Sócrates, Platão e Aristóteles, no campo da teoria, de Péricles e de Demóstenes na arte da oratória, estão presentes em qualquer estudo erudito que se faça a respeito e mesmo nos mais singelos manuais de divulgação.


Referências:

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. p. 28 e 32.

DEUSES, MÚMIAS E ZUGGURATS – Uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia- Ciro Flamarion Cardoso, Coleção História 27- Porto Alegre 1999.

O MUNDO GREGO – Vitor Biasoli FTD São Paulo.

O MUNDO ANTIGO: ECONOMIA E SOCIEDADE (Grécia e Roma) 1ª edição 1982 Brasiliense Maria Beatriz B. Florenzano.

O legado da Grécia- Uma nova avaliação – M.I. Finley Editora UnB.

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