RESENHA DO
CAPÍTULO “ ESTRANHOS COMEÇOS”,
DO LIVRO HISTÓRIA
DA ARTE DE ERNST GOMBRICH
O pesquisador Ernst Gombrich nasceu em Viena no ano de 1909 e faleceu em Londres em 3 de novembro de 2001,
aos 92 anos. Ele estudou na Theresianum e no Instituto de História da Arte na
Universidade de Viena. Em seguida, trabalhou como assistente de pesquisa e
colaborador com o curador do museu e analista freudiano Ernst Kris. Ingressou
no Instituto Warburg em Londres, como um assistente de pesquisa em 1936 e durante
a 2ª Guerra Mundial, ele foi contratado pela BBC como um Monitor de Rádio.
Além desses campos que
Gombrich atuou, o pesquisador realizou obras de suma importância para o campo
acadêmico, uma delas que corresponde a um dos empreendimentos literários melhor
sucedidos é A História da Arte
(1909). Prova dessa afirmação é que tal obra foi traduzida para várias línguas
além de ter vendido milhões de exemplares em todas as partes do mundo. No caso da edição brasileira, existem 654
páginas com muitas ilustrações das obras discutidas.
Tais ilustrações facilitam o
entendimento do texto além de nos possibilitar a aproximação com o mundo
artístico. Gombrich tem a preocupação em não trazer apenas a ilustração para
julgarmos esteticamente mas junto dela, existe um contexto, uma história e um
método. Isso é um ponto de suma importância para o
entendimento das diversas obras de arte.
Outro aspecto que auxilia o entendimento da
obra é a sua estrutura. Uma das teses de Gombrich é de que não há Arte de forma
abstrata mas a obra de artistas vinculados ao seu tempo. Assim, os preconceitos devem ser abandonados e a Arte
deve ser pensada como algo que muda e que teve valores diferentes em cada
sociedade. Desta forma é exatamente esse
tempo que o autor meticulosamente dividiu e discutiu que faz com que o texto se torne mais organizado e
simples de entender a relação das obras artísticas com cada período histórico.
Um período cheio de tabus e preconceitos que
foi desmistificado e discutido de uma forma brilhante por Gombrich está
presente logo no primeiro capítulo de seu livro. Com um título provocativo:
"Estranhos Começos – Povos pré-históricos e primitivos; América Antiga”,
tal capítulo nos faz mergulhar neste mundo que pouco se sabe, afinal como na
maioria das vezes é aprendido de forma errônea no colégio, tal período é
considerado por muitos como época das trevas.
Essa visão
limitada é logo refletida no início do capítulo. Segundo o autor o termo
“primitivo” não deve ser entendido como algo anterior em uma escala evolutiva,
afinal esses povos utilizaram as técnicas artísticas que consideraram necessárias,
simples ou não, para realizarem suas
atividades artísticas.
Com isso, não
cabe a nós julgar o artefato artístico apenas pelo conceito estético afinal
como Gombrich afirma na introdução de seu livro: “O problema é que gostos e
padrões de beleza variam muitíssimo.” (p. 20). Com isso conclui-se que para
entender os povos pré-históricos e primitivos deve-se tomar muito cuidado com
os julgamentos do que é considerado belo ou feio, arte ou não arte.
Isso porque os
objetos artísticos criados pelos povos primitivos eram produzidos com objetivos
específicos e não havia essa preocupação com a estética. Na maioria dos casos
tais objetos tinham funções ritualísticas e religiosas, entretanto como o autor
salienta tais objetos podem ser considerados como sendo uma primeira forma de
escrita.
Para sustentar
tal afirmação Gombrich discute vários exemplos como a arte em totens dos índios americanos,
esculturas maias e astecas e máscaras do Alasca com a finalidade de mostrar que
em uma “simples” escultura ou totem continha em si uma grande narrativa, que é
de suma importância para nossa historiografia
Graças a
narrativa e as esculturas em madeira, ossos e pedras foi possível saber que
muitas tribos celebravam festividades regulares, nas quais se vestiam como
animais e como eles se movimentavam em danças solenes e rituais. Cada família
tinha de fato suas próprias tradições e predileções.
Além desse
fato pode-se observar que as pinturas
que retratavam figuras de bisões, touros, mamutes ou renas sob machados nas
paredes das cavernas, em lugares praticamente inacessíveis, eram algum tipo de
magia, uma forma de crer que aquela figura transporia algum poder.
Com isso,
observa-se que este capítulo nos faz refletir sobre o que julgamos por arte.
Afinal, após lê-lo nos perguntamos se não estamos mergulhados em uma tendência
ao convencional, julgando por exemplo os
povos pré históricos, primitivos e a américa Antiga como sendo inferiores ao
que estamos acostumados a ver no nosso mundo.
Esse julgamento só faz com
que tenhamos uma visão extremamente preconceituosa e cega diante do artefato
artístico. Por isso que esta obra também é de suma importância para que
possamos criar um senso crítico e reflexivo fundamentalmente de períodos com
tantos tabus como os “estranhos começos”.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. 16 edição. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário